‘Na Record, quebrava coco com pedra’, diz Márcio Garcia


SÃO PAULO - Ele já foi modelo, VJ, apresentador de game, de programa infantil, de programa de auditório, galã de novela, cantor… Opa, cantor, Márcio Garcia ainda não foi. Ainda. Em entrevista ao Estado, ele fala de preconceito, de suas escolhas e da versatilidade que lhe deu bilhete cativo na ponte área ator/apresentador, com destino certo agora na Globo.

Você definiu no início de sua carreira que seria ator e apresentador, ou tinha um foco único?
Foi tudo por acaso. Virei modelo por acaso e comecei a ir bem em comerciais com texto. Por conta disso, fui chamado para fazer a Oficina de Atores da Globo, com o Tônio Carvalho… Eu, o Rodrigo Santoro, a Maria Luiza Mendonça, o Leonardo Vieira, era uma turma grande… Aí, eu e o Rodrigo Santoro fomos chamados para fazer um teste para série Sex Appeal, mas acabamos não passando.

Foram reprovados?
É, tomamos um balde de água fria. É uma história engraçada: a gente estava voltando do teste, triste, e disse : “O que pode acontecer de pior hoje?” O carro enguiçou, tivemos de empurrar (risos). Mas foi aí que me chamaram para fazer um teste na MTV como apresentador. Deu certo e fiquei lá por quatro anos. Para você ver, comecei fazendo teste para ator e virei primeiro apresentador. Fiquei na MTV até o Paulo Ubiratan, meu descobridor na Globo, me chamar para fazer Tropicaliente. Conciliei as duas coisas por dois anos. Mas foi a carreira que me levou.

Você tinha acabado de fazer um bom personagem em Celebridade quando foi para a Record….
O que me levou foi a oportunidade fazer um programa, liberdade de estar à frente da criação. Claro que tudo tem suas limitações, tem um orçamento, boa idéia que custe 1 milhão não é boa (risos). Teve uma oferta financeira bem bacana também. O Melhor do Brasil era muito legal, mas não foi ainda o que eu gostaria de ter feito. Valeu como experiência, me amadureceu muito. Brinco que na Globo eu só tenho que escolher o suco que vou tomar. Tá tudo pronto, na mão. Na Record, tinha de quebrar o coco com pedra.

Mas lá você fugia das novela?
Não. Eu fiz Vidas Opostas.

Ah, foi uma pontinha…
É..(risos). Mas toda novela me convidavam e eu falava: “Essa não, essa não, tá, essa eu vou…” Tem um lance da vontade, ué.

E o que te trouxe de volta à Globo?
A história da grana não interferiu. Tinha saudade da Globo, dos meus amigos , e me deram a possibilidade de manter o mesmo padrão de vida com a chance de fazer um programa em um momento futuro, fazer um protagonista em novela…

Mas quando você acertou com a Globo já tinha o convite para a novela?
Não tinha nada acertado, só a possibilidade. Hoje, se você perguntar como será meu programa, digo : ?Não tenho a menor noção? (risos). Estou focado agora no Bahuan (personagem de Caminho das Índias). Mas estou aqui para fazer o que eles disserem. E esse conforto ainda é melhor que na Record. Falo do padrão Globo de qualidade. Não tenho que me preocupar se a novela está bem escrita e tal.

Não tem de se preocupar com os bastidores da coisa…
É, porque senão vira uma angústia, um sofrimento, parece que você nunca está satisfeito, que você é um mala… Pô, o cara tem programa, quer fazer novela, tá na novela e quer fazer programa (risos). Tomo cuidado para que essa versatilidade não jogue contra mim. Você vê que no Brasil dos atores que tentaram cantar, nenhum deu certo.

Há um preconceito no Brasil?
Exatamente. Nos EUA, é normal que um ator saiba fazer tudo. O Wil Smith é ator e cantor de sucesso. Mas acho que aqui tem aquela coisa da novela. No cinema o cara faz dois filmes por ano e pronto. Qual o nome do Tom Cruise em Missão Impossível, lembra?

Não, não lembro..
Mas como chamava meu personagem em Celebridade você lembra.

Claro, o Michê.
Então, é muito tempo entrando todo dia na casa das pessoas. No cinema, o cara pagou o ingresso, deu duas horas e acabou. Na novela, fica lá um tempão. Então, é muito difícil você ver o Michê cantando (risos). A Cacau (Cláudia Abreu), coitada, até hoje encontro ela na rua, com carrinho de bebê, e brinco: ?Ô, Cachorra!? (risos). Personagem de novela marca muito.

Sente ciúmes do seu antigo programa na Record?
Fiz questão de passar o bastão no ar para o Rodrigo (Faro) na Record. Pedi para fazer isso, em consideração ao público. Entrei tanto tempo na casa das pessoas e, de repente, desapareço? Parece que o cara sumiu no Natal, o apresentador saiu para comprar cigarro (risos). Ao mesmo tempo que dá ciúme, é bom ver que ainda está no ar. É como passar por uma casinha em que morou por muito tempo, dá vontade de entrar para olhar. Você pode estar em uma mansão dez vezes maior, linda, mas aquela casinha sempre dá saudade. diz todo canal

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