Por Márcio Maio
Sidney Magal já foi taxado de brega e cafona na música, se arriscou nos palcos como ator e chegou a integrar o elenco de três novelas. Agora, de volta à TV, o “pai” da cigana Sandra Rosa Madalena comanda Uma Escolinha Muito Louca, humorístico do horário nobre da Band.
Transparente, ele assume que não se acanha em aceitar qualquer trabalho que o permita exercer a função de artista. E impõe apenas duas condições. “Não gosto de ser a quinta, sexta opção. E não aceito fazer ’strip tease’. O resto, é só me chamar que eu vou”, brinca.
Ciente da falta de originalidade do formato de seu programa, Sidney assume que se preocupou com isso no início. Mas relaxou. Primeiro, por contar com personagens atuais e que, de alguma forma, se tornaram diferentes daqueles adotados pela Escolinha do Professor Raimundo, sucesso da Globo nos anos 90.
E, além disso, por assumir que a única proposta da nova “menina dos olhos” da Band é mesmo fazer rir. Mas Sidney mostra certo receio ao falar de seu contrato com a emissora, que vale por um ano. “Espero que o programa dure até o término. Pelo menos durante esse tempo”, torce, com certo realismo.
A fórmula de Uma Escolinha Muito Louca é muito antiga e foi inspirada na Escolinha do Professor Raimundo. Quando você foi convidado, chegou a se incomodar com isso?
Logo que eu recebi a proposta imaginei que seria uma coisa complicada. Me lembrou muito a época em que fiz a peça Roque Santeiro. Nosso grande problema eram as comparações. E o Chico Anysio eternizou a escolinha dele na TV. Não tem como evitar. Mas quando entraram os atores, percebi que havia diferenças. Temos um motoboy, um motorista de bêbado, a operadora de telemarketing, ou seja, personagens que são da nossa época. Os temas são atuais e a maior parte do elenco é jovem. Quer dizer, são atores que vivem essa realidade. Acho que isso já nos ajudou muito.
Mas é uma proposta que não traz grandes inovações. Que valor você acha que o programa agrega à grade da Band?
Como um pai de família, acho que a violência na TV é tratada de forma muito pesada. Os telejornais só trazem notícias ruins e isso já está saturando alguns telespectadores. Quanto mais bobagens a gente colocar no ar, melhor. O importante é fazer as pessoas rirem, mesmo sem uma proposta diferenciada. O nosso objetivo é só divertir, aliviar um pouco a vida de quem estiver assistindo.
Você começou como cantor na década de 70, mas passa a impressão de topar qualquer trabalho na vida artística. Como isso funciona? Só não tiro a roupa. O resto, é só me chamar que eu vou. Entendo que ser artista é se jogar e dar o melhor de si. Quando fui chamado para atuar nos palcos, fiquei com um medo absurdo. Eu sempre fui um cantor popular, taxado de brega e cafona por muitos. Quando você vai tentar um trabalho tido como “sério”, sabe que tanto a crítica quanto o público são mais exigentes. Mas me arrisquei e deu certo. Fui elogiado por críticos conhecidos quando fiz o musical Sweet Charity e o espetáculo Roque Santeiro.
Você se considera brega e cafona como cantor?
Não me incomoda ser taxado de brega ou cafona, mas nunca me considerei assim. Se o Ney Matogrosso cantasse um gênero como o meu e se vestisse daquele jeito, seria mais massacrado ainda. Mas o repertório dele é considerado sofisticado, então é visto como artista. O visual do Elton John, muitas vezes, beira ao ridículo. Mas ele pode. Sempre achei que tinha criado uma marca, um personagem. Assim como eles. Mas não fui visto como artista por muita gente. Ainda bem que hoje a situação é diferente.
Na sua opinião, o que mudou?
O Brasil assumiu, depois de muitos anos, sua breguice. É só a gente analisar bem. A música sertaneja, por exemplo, sempre foi excluída. Mas agora é um sucesso. O axé baiano era considerado brega, assim como o pagode romântico. Mas agora isso está na moda. Os filhos das pessoas que me taxaram de cafona hoje escutam essas coisas. Os jovens mudaram. Houve uma época em que havia um certo deboche. Mas agora não. Vários jovens vão aos meus shows, me cumprimentam e mostram que o preconceito se diluiu através dessa nova geração.
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